Dez anos após uma das maiores tragédias ambientais registradas no Brasil, os membros dos Comitês Afluentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce reforçam a importância da união dos colegiados nas discussões voltadas à recuperação dos cursos d’água e fazem uma avaliação da situação ambiental do manancial, uma década após o desastre que causou impactos profundos e duradouros.
Mesmo após dez anos, as consequências do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, ainda são visíveis no Rio Doce. O desastre provocou danos incalculáveis às comunidades ribeirinhas, aos povos indígenas que dependiam da pesca para sua subsistência e às populações dos municípios atingidos, deixando marcas profundas na vida das pessoas e no meio ambiente.
“Um dos principais desafios ambientais nesse contexto são os rejeitos remanescentes, que ainda se encontram acumulados no leito do rio. Outro desafio relevante é a degradação das margens, já que aproximadamente 100 quilômetros de mata ciliar foram destruídos. O solo das margens foi alterado, o que dificulta a restauração das espécies nativas e favorece o surgimento de plantas invasoras. Além disso, há o impacto na vida aquática, com diversos efeitos negativos sobre a biodiversidade, que continuam sendo sentidos e afetam diretamente a vida no rio e a atividade de pesca”, destacou recuperação da bacia. Para o presidente do CBH Piracicaba, José Augusto Costa Gonçalves.
“Após dez anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, o cenário ainda é marcado pela lentidão no processo de reparação, pela desigualdade no reconhecimento e indenização das vítimas e pela persistência dos impactos sociais e ambientais. Seguimos buscando parcerias, especialmente com o Ministério Público, para atuarmos conjuntamente nesse novo processo de repactuação. Nosso objetivo maior é a universalização do saneamento, destaca Carlos Eduardo Silva, presidente do CBH Piranga.
“Dez anos após o crime da barragem que atingiu o Rio Doce, as melhorias ainda são limitadas. Apesar dos altos investimentos, faltam ações concretas voltadas à recuperação ambiental. Afluentes como o Rio Santo Antônio, com potencial para contribuir com a revitalização do Rio Doce, receberam poucos recursos da Fundação Renova. Além disso, comitês como o da Bacia do Rio Doce foram excluídos das discussões e tiveram suas decisões ignoradas. É urgente uma gestão mais transparente, participativa e comprometida com a recuperação efetiva do rio e de seus ecossistemas, destacou Presidente do CBH Santo Antônio, Gisleno Silva.
“A recuperação do Rio Doce é essencial para restabelecer o equilíbrio ambiental de toda a bacia, garantir o abastecimento de água, preservar a vida aquática e promover o desenvolvimento sustentável da região”, ressaltou o presidente do CBH Caratinga, Thales Castilho.
“Dez anos após o desastre, o Rio Doce e seus afluentes ainda enfrentam profundas consequências. Apesar dos esforços dos comitês de bacia, de seus programas e ações, dos órgãos ambientais e das instituições envolvidas, a recuperação segue lenta e desigual ao longo de toda a região. A contaminação, a degradação dos ecossistemas e os impactos sociais permanecem evidentes. Essa data deve ser encarada como um momento de reflexão, pois o desastre persiste, e os desafios para restaurar a vida ao longo do território são enormes e continuam a nos confrontar”, afirmou o presidente do CBH Suaçuí, Hernani Santana.
“Eu defino a situação como extremamente complexa. Nós, que somos os verdadeiros gestores da Bacia, fomos surpreendidos com a criação da Fundação Renova, que gastou uma fortuna, uma fábula de recursos com compensações a produtores rurais e a atingidos. Muita gente ganhou muito dinheiro em função da tragédia, se gastou muito, não só em compensações, mas em processos diversos. Compensações que resultaram em restauração florestal e produção de informações sobre o Rio. Inclusive, não sabemos onde estão armazenadas essas informações, que são relevantes para que possamos compreender melhor nosso território. Talvez tenha sido uma das bacias mais estudadas nos últimos tempos no mundo e ao mesmo tempo os comitês ficaram alheios, não foram devidamente envolvidos nos processos. Nós participamos indiretamente de algumas ações, mas, como sempre os comitês foram ignorados. Com a repactuação isso se repetiu, os comitês não são participados. A situação é uma incógnita, é estranha pra nós que fazemos parte da Bacia porque ainda há muito rejeito de minério no leito do Rio, não se sabe a definição de tudo isso. Nós temos dilemas em regiões ribeirinhas, em povos e comunidades que dependem da água do Rio Doce e não sabem como utilizá-la, têm dúvidas quanto à qualidade dessa água, nós temos a economia e o turismo afetados, então são problemas de toda ordem, mesmo depois de tanto tempo que o crime aconteceu”, afirma o presidente do CBH Manhuaçu, Senisi Rocha.
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