Dez anos após o maior desastre ambiental do país, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH Doce) permanece firme em sua missão de recuperar e proteger os recursos hídricos. A tragédia deixou um rastro de destruição, dor e indignação — mas não foi capaz de levar embora a esperança. Desde então, os Comitês do Rio Doce têm se dedicado intensamente ao fortalecimento da gestão das águas e à restauração dos ecossistemas afetados.
Ao longo de dez anos, os Comitês afluentes do Rio Doce uniram esforços e potencializaram ações voltadas à preservação e recuperação ambiental. Nesse período, a bacia se tornou pioneira na aprovação de um conjunto completo de instrumentos de gestão estabelecidos na Política Nacional de Recursos Hídricos, incluindo o Plano Integrado de Recursos Hídricos (PIRH) e o enquadramento dos corpos hídricos, instrumentos que permitem mais assertividade e melhores resultados dos projetos desenvolvidos pelos Comitês.
Além disso, diversos investimentos provenientes da cobrança pelo uso da água foram aplicados no território. Esse trabalho, que já vinha sendo realizado antes da tragédia que contaminou o Rio Doce com rejeitos de minério, foi intensificado e repensado após o rompimento da barragem de Fundão.
Ao longo de uma década, foram investidos mais de R$ 240 milhões em ações voltadas à proteção de nascentes, saneamento básico, segurança hídrica e gestão de eventos críticos. Entre os destaques estão a Iniciativa Rio Vivo, que reúne ações de proteção de nascentes, saneamento rural e controle de sedimentos; o desenvolvimento de ações para o setor de saneamento, por meio da iniciativa Protratar, que abrange Projetos, Obras, Perdas e Pequenas Comunidades; e, por fim, o Programa de Segurança Hídrica e Eventos Críticos, que inclui a contratação de um sistema de prevenção de inundações capaz de mapear áreas de risco e prever vazões em curto prazo.
Ao longo de toda a trajetória da tragédia no Rio Doce, os Comitês da Bacia foram sistematicamente ignorados nas principais discussões — desde a elaboração do Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) até o processo de Repactuação de Mariana, assinado em outubro de 2024.
Ainda assim, testemunhamos uma mobilização sem precedentes daqueles que realmente defendem o rio: comunidades ribeirinhas, povos originários, pescadores e tantos outros que têm no Rio Doce não apenas sua fonte de sustento, mas parte essencial de sua identidade e história. O Rio Doce permanece vivo porque há quem acredite, planeje e aja. E assim continuaremos.
Seguiremos vigilantes e atuantes no acompanhamento dos próximos passos da reparação, assegurando que os interesses da Bacia sejam respeitados e que todas as ações estejam alinhadas aos princípios de preservação e recuperação ambiental. Cada decisão tomada representa um avanço necessário para garantir dignidade, saúde e qualidade de vida às atuais e futuras gerações.
Com responsabilidade e compromisso, os Comitês da Bacia do Rio Doce seguem fortalecendo a gestão das águas e atuando para que esse recurso vital seja protegido, cuidado e preservado de forma justa, sustentável e participativa.
José Carlos Loss Júnior
Presidente do CBH Doce
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